Em um lugar distante em meio ao deserto, depois da terra do esquecimento, vinha caminhando lentamente um surdo. Um surdo-mudo, que ouvia tudo, de pés descalço, bucho inchado, levava contigo apenas o silêncio. Silêncio que era seu companheiro desde do dia que veio ao mundo, e suas roupas velhas empoeiradas só isso e mas nada. Quando avista uma árvore, uma árvore raquítica, com seus galhos secos, que contia apenas uma folha, uma folha solitária, solitária e amargurada. No começo com seu pensamento confuso, pensou que se tratava de uma miragem, miragem que é covarde que vem roubar a carruagem do alívio. Mas logo veio um sorriso em seu rosto abatido e sua alma deu um suspiro. Depois de alguns minutos ali parado, anestesiado, olhando atentamente aquela árvore, quase sem vida, mas que para seus olhos enxergava uma beleza, uma beleza que ele era incapaz de descrever, mas pra que, ninguém ia compreender, o que só os olhos do seu coração podia vê. Então ali Anestesiado o surdo-mudo, que ouvia tudo, foi se aproximando lentamente, até conseguir encostar suas mãos suadas e calejadas no caule da árvore, da árvore quase sem vida. O seu toque era mas sutil do que a um floco de neve encostando ao chão, porém em seu gesto ingênuo tinha calor, calor que fez com que a folha solitária se soutasse da árvore, da árvore quase sem vida. Enquanto a folha descia cortando o vento produzia um belo som, som semelhante à de um violino, um violino sendo tocado por mãos divinas. O som produzido pela folha era tão belo que até os ouvidos do surdo, que ouvia tudo, se encantaram. A emoção tomou conta do seu coração, que mesmo desidratado seu corpo permitiu soltar a última gota de água que havia em seu corpo, que veio em forma de lágrima escorrendo pelo canto do seu rosto, empoeirado. Até encontrar o solo seco e rachado, aquela gota de lágrima persistente continuo deslisando pelas rachaduras. Até que deparou-se com a raiz da árvore seca, que já não tinha mais a folha solitária. Em seguida desse gesto de solidariedade até as nuvens cinzentas não conteve as lágrimas com tamanho compaixão. Marcelo A Silva
O florescer da alma
Me vi em frente a um imenso espelho
Tendo lembranças de momentos encantadores que vivi
Então percebi que a minha tristeza
Não era pelo que se foi, mas sim pelo que ficou
Por que o que ficou, era só a lembrança do que se foi
Mesmo com todo pensamento vasto que surgia em minha consciência
A imagem que eu ali via, refletida no espelho ,não me assustava
Em razão de que não era minha imagem ali refletida
Mas sim o reflexo da alma de uma flor
Ao mesmo tempo em que via aquela sublime imagem
A sensação que surgia em meu corpo me confortava
Como se um anjo tivesse abraçado minha alma
Assim fechei os olhos e se formou o rosto da flor em meus pensamentos
Minha alma subiu até o céu, neste instante voltei a viver.
Marcelo A Silva
Vida fértil
Vida minha, que serviu de solo fértil
Para que eu plantasse minhas dores e alegrias
Que vem sendo regadas com gotas de emoções
Que se formam lentamente, com decorrer do tempo
A cada gota que pinga no solo, nasce uma planta
Algumas são lindas, com perfume adocicado
Flores aveludadas, com cores radiantes
Então distribuo aos vasos e jardins que encontro
Outras nascem envenenadas com espinhos
Nesse caso as sufoco até conseguir corta sua raiz
A fim de não deixar que os jardins e vasos se contaminem.
Marcelo Augusto da Silva
A ida do silêncio
Ali estava um de frente pro outro, mas não se olhavam
Ambos mantinham o olhar fixo ao chão
De cabeça baixa, o barulho era ausente
Não se escutava nem a respiração
O vento não se permitia assoviar em tamanho silêncio
A luz opaca da lamparina projetava a sombra da alma
De ambos na parede suja de carvão
Então o tempo se adiantou para vê se algo acontecia
E veio na cabeça dela, algumas lembranças
Que o empurrava para uma certa esperança
Mesmo na tristeza que se encontrava
Na cabeça do outro nada se passava, um eterno vazio
Estava ele desiludido, totalmente desiludido
O tempo não satisfeito se adiantou mais um pouco
Então ouve um toque de mão, e o silêncio se foi
Ao cair das lágrimas de ambos.
“Marcelo Augusto da Silva”
Abra meus olhos
Aquilo que me fazia livre, já não sinto mais
Tento pegá-la, porém está longe dos meus dedos
As vezes consigo lembrar como era aquela sensação
Quando ela vem, logo me acorrento a ela
No entando não dura muito, logo evapora
Então peço a minha alma, que abra meus olhos
Os olhos da minha razão, porque meu entendimento se foi
E não consigo convencer de que ele volte
Nessa cegueira que me encontro
Minha sensibilidade se desmancha em pó
O meu toque não sente mais a textura da pedra de barro
O vento não assovia mais em meus ouvidos cansados
O perfume da rosa dália, misturou-se com a fumaça
A água perdeu a pureza para ganhar cor
Meus sonhos perderam a forma, e as lágrimas secaram
Entretanto a esperança cresce dentro de mim
Ao invés de um ponto a vida me deu uma vírgula antes do fim.
“Marcelo Augusto da Silva”
A pausa
Minha fé é fraca, muito fraca
Quase invisível passa até despercebido
Pelos olhares preciso do acusador
Ela é fraca ao ponto que consigo ver meu passado no futuro
Talvez porque meu passado nunca se foi
Ele deve está presente no meu suspiro ofegante
Que autoriza o maestro a começar a sinfonia
E logo as notas de alívio da dor estão sendo tocadas
Sutilmente mas com muita precisão
Mas no meio da melodia a uma pausa
Pausa que deixa a minha respiração ainda mas ofegante
Não sei se é intencional ou falha dos instrumentos
Quando a melodia volta, a plateia de uma pessoa só
Aguarda com atenção o final da dor
Que nunca passa apenas dá uma pausa.
“Marcelo Augusto da Silva”
Bicho solto
Eu sou bicho solto, bicho solto na senzala do mundo
Bicho livre na senzala do corpo, eu sou bicho solto
Bicho solto na senzala do desejo, do amor grotesco
Eu sou Bicho livre, por que penso, penso a ideia do outro
Que já foi pensamento de outro, por isso sou bicho solto
Na verdade o que passa na minha cabeça eu não intendo
é como se outro pensasse aqui dentro
o meu pensamento passa num momento
depois ele some sai para passear ou se esconde
pego o mapa celebral para encontralo, mas sem sucesso
Deixo quieto por que sou bicho solto
Eu sou bicho solto, bicho solto na senzala da paixão,da cadeia do vício
Eu sou bicho livre, bicho livre que nem pássaro da asa quebrada
Que bate, bate suas asas e não serve de nada
Eu sou bicho livre, livre na cadeia do tempo
que me escraviza os momentos e chicoteia os sentimentos
Eu sou bicho solto, bicho solto porque grito
Grito como menino desprovido que grita porque e bicho livre
Eu sou bicho livre, bicho livre por que vou pra lá
bicho solto por que venho pra cá
Eu sou bicho solto, bicho solto poque não sei nada de mim
Bicho livre porque nasci, nasci porque sou bicho solto
Eu sou bicho solto, bicho solto porque éo fim
E no fim encontrarei a liberdade, a liberdade poque sou bicho solto.
“Marcelo Augusto da Silva”